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sábado, 3 de dezembro de 2011

Terry Gilliam sobre Heath Ledger:

"Sempre que tento descrever Heath acaba sendo uma série de clichês, porque ele era extraodinário e, infelizmente, a maioria dos clichês já foi usada para descrever pessoas menores.
Eu o conheci em LA por volta de 2001, quando trabalhamos em Os Irmãos Grimm. Tinha uma qualidade magnética. Gostei dele imediatamente, e, apesar de que naquela época ainda não ter visto Heath atuar em nada, disse-lhe: "Você está dentro. Vamos fazer". Ele era um desses seres humanos abençoados que têm facilidade para fazer muuitascoisas ao mesmo tempo. Quando não estava interpretando, dirigia videoclipes e apoiava jovens músicos. Estava trabalhando no roteiro de um filme que ia dirigir. Tinha um lado incrivelmente artístico, e era um grande mestre no xadrez. Por isso, quando ele partiu, foi como se metade do mundo tivesse desabado.
Heath morreu na metade do filme que estou realizando,The Imaginarium of DoctorParnassus.Tínhamos acabado de filmar em Londres no sábado à noite. No domingo fuipara Vancouver na sexta-feira. Mas morreu na terça.Nenhum de nós conseguiu aceitar o fato. ERA IMPOSSIVEL QUE FOSSE VERDADE, MAS ERA..Estava trabalhando no departamento de arte quando ouvi a notícia, e ficamos lá a tarde toda. Ao entardecer, milhares de corvos voaram sobre a janela e eu pensei: são os corvos dos Irmãos Grimm, e eles vão cumprimentar Heath.
Em termos de atuação, ainda não me conformo com sua morte porque ficaria muito à frente de qualquer outro de sua geração. Ele simplesmente atuava cada vez melhor.Era destemido. Em Parnassus, improvisava o tempo todo e o improviso era melhor do que o que tínhamos escrito. Normalmente eu não incentivo esse tipo de improvisação, mas de certa forma senti que Heath estava escrevendo o filme.Era um ator incrivelmente engraçado quando queria ser - com um timing cômico extraodinário - e podia arrasar o coração de alguém no minuto seguinte.Geralmente os atores são muito egocêntricos.Mas Heath nunca era assim. Dava apoio total a tudo oque acontecia ao seu redor. Conseguia melhores desempenhos dos outros atores - apenas extraía isso deles. Era totalmente generoso sempre consciente de todas as pessoas, e se comportava como se não houvesse nada especial nele - era apenas um rapaz.Sua atração física também era extraodinária. Lembro-me de Monica Bellucci quando veio fazer Grimm.
Ela entrou na sala de maquiagem e havia uma foto de Heath na parede. Ainda não o conhecera, e acho que não sabia muito bem quem era, mas foi imediatamente na direção da foto. Tinha esse o tipo de atração. As mulheres o adoravam, os homens o amavam. Todos concordamos em chamar Parnassus de "um filme de Heath Ledger e amigos", porque não acho que seja um filme de Terry Gilliam. Acho que é algo que a vida e a morte dele criaram. Quando morreu, eu disse que era o fim. Não poderíamos continuar. Mas todo mundo falou: "Você tem que continuar" - pelo filme, pela última atuação de Heath. Não era possível qualquer pessoa substituí-lo, então demos um salto quântico e colocamos três pessoas - Johnny Depp, Colin Farrell e Jude Law. A Santíssima Trindade. Eles vieram, deram duro e acho que funcionou de maneira brilhante.
Quando Heath morreu, houve histórias sobre Heath Ledger, James Dean e River Phoenix destruídos pelo sistema, mas isso é besteira. O que aconteceu foi um acidente. Ainda não o entendo. Sei que estava exausto - a última coisa que disse é que estava tão cansado que só queria dormir. PENSO QUE, AS VEZES, OS ANJOS DESCEM À TERRA, E HEATH PODE TER SIDO UM.
ENTÃO ELE SE FOI E EU PENSO: ESTÁ TUDO ERRADO, TODAS AS OUTRAS PEOAS DEVERIAM ESTAR MORTAS. ELE DEVERIA ESTAR NOS LEVANDO PARA UM MUNDO MARAVILHOSO DE AVENTURA."
(Terry Gilliam sobre Heath Ledger)

O filme "Os Irmãos Grimm" será exibido hoje, 03/12, às 22h45min, no SBT.

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