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quinta-feira, 25 de agosto de 2011

Viajo porque Preciso, Volto porque Te Amo (2009)


Por Sofia Lobo

Ao contrário do que muitos imaginam, o cinema brasileiro contemporâneo produz obras notáveis e inovadoras. O desconhecimento do público acerca dessas obras deve-se, dentre centenas de fatores, à falta de incentivo a produção de um cinema diferente que fuja ao modelo hollywoodiano. A escassez de recursos para a divulgação, por exemplo, impede que novos diretores e suas produções, as quais mostram o Brasil, sua história e sua rica cultura de maneiras particulares, se tornem conhecidos.

Essas obras a serem descobertas nos emocionam, nos fazem refletir sobre nossa existência efetiva e mostram realidades tão distantes da vida urbana. Vão além do puro entretenimento e da visão unilateral da violência e da realidade brasileira.

Nesse contexto, quando um filme inovador se torna conhecido, jorram críticas negativas do público. Atrevo-me a dizer que esses julgamentos se devem principalmente a falta de conhecimento acerca da diferença entre a técnica e a estética no cinema. Não farei aqui um tratado sobre isso, mas é importante saber que nem sempre um filme com poucos recursos é descartável. O diretor opta por uma técnica que se encaixa a proposta do filme, ao conteúdo a ser transmitido. Aliás, a falta de técnica pode até ser proposital. A frase característica do Cinema Novo, movimento cinematográfico brasileiro inspirado na Nouvelle Vague, “Uma câmera na mão e uma ideia na cabeça.”, ilustra a proposta arriscada, porém não impossível, de produzir um bom filme com orçamento mínimo.

E foi assim que os diretores Marcelo Gomes e Karim Ainouz produziram um dos mais controversos filmes lançados nos últimos anos. Viajo porque Preciso, Volto porque Te Amo (2009), foi produzido com sobras de filmagens do documentário Sertão de Acrílico Azul Piscina. As cenas são do Norte e Nordeste do Brasil.

Viajo é inovador não apenas por utilizar cenas descartadas e de baixa qualidade; é o relato de viagem de José Renato (Irandhir Santos, Besouro), que na verdade nem aparece. O conhecemos apenas através de sua voz grave e monótona. José Renato é geólogo e viaja cruzando o sertão para realizar análises de solo e estudar a possibilidade de construção de um canal naquela região. Ele conhece paisagens, pessoas e toda a miséria dessa região abandonada do Brasil. No início, Renato se limita a descrever o terreno e sua viagem. No entanto, à medida que a solidão, o tédio, a angústia e a saudade da amada tomam conta de suas emoções, ele deixa de lado o geólogo e passa a observar as paisagens áridas com olhos críticos e humanizados. A viagem também permite que ele reflita sobre a própria vida.

Uma das críticas que li sobre Viajo é a monotonia das cenas. A câmera parada por vezes filma uma paisagem desértica ou uma pessoa durante longos minutos. Mas esse é um recurso técnico a favor da mensagem que o filme deseja transmitir. Ora, é de se esperar que no meio do sertão, onde o que se encontra é uma longa estrada cruzando o deserto e um ou outro restaurante humilde, a paisagem seja monótona e solitária. Esse recurso serviu para ilustrar o que o personagem sentia.

Viajo por que Preciso, Volto porque Te Amo possui elementos que o tornam um filme de difícil interpretação e identificação com o público, mas sem dúvida é uma obra que merece ser valorizada não apenas pela crítica, mas também pelos brasileiros que devem conhecer, sem estereótipos e preconceitos, o povo nordestino e a cruel realidade do Brasil.

3 comentários:

  1. Antigamente os filmes brasileiros se resumiam em matança e sexo.
    Ainda bem que isto está mudando!


    Beijo'
    http://minhaformadeexpressao.blogspot.com

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  2. Eu gosto de filmes de qualquer nacionalidade, com qualquer recurso estético, minha única exigência é que seja bom, pelo menos aos meus olhos. Essa questão do cinema nacional é muito polêmica, mas como você mesmo disse, não tem como fazer um tratado sobre isso. Gosto de alguns filmes nacionais, mas confesso que tenho uma pequena implicância com alguns temas e formas de contar. Acho chato só falar de sertão, mas adoro Lisbela e o Prisioneiro e O Auto da Compadecida. Acho clichê falar só de favela, mas gostei muito do Tropa de Elite (1 e 2). Tudo é uma questão de percepção.

    Fiquei muito interessada nesse filme que você resenhou, parece ter linguagem toda própria, eu adoro filmes alternativos e pensantes. Vou procurar para ver.

    Já viu "Apenas o fim"? O filme também tem cenas lentas e é basicamente uma mistura do presente com pequenos flash backs, mas eu curti bastante a história.

    Beijos,
    ;*

    www.sabordebaunilha.blogspot.com

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  3. Ainda não vi "Apenas o fim", mas vou procurá-lo. Sempre é bom seguir indicações :)

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